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A Copa do Mundo começa na quinta-feira com o jogo entre Rússia e Arábia Saudita, mas a véspera da abertura será agitada em Moscou por causa da eleição que vai definir a sede do Mundial de 2026 (o primeiro com 48 seleções) entre Marrocos e a candidatura conjunta de Estados Unidos, Canadá e México. Será a primeira votação aberta a todas as associações filiadas à FIFA (antes votavam apenas os 22 membros do Comitê Executivo), uma tentativa da entidade de ter sua imagem associada a transparência e democracia. E um fator político – a repulsa de alguns países ao governo de Donald Trump – pode pesar na escolha, embora a candidatura da América do Norte seja apontada como grande favorita por causa do enorme volume de dinheiro que pode gerar para os cofres da FIFA.
A comissão designada para avaliar as candidaturas apresentou um relatório amplamente favorável aos norte-americanos, que receberam notas melhores em todos os quesitos. Os pontos mais críticos da candidatura marroquina são “estádios” e “acomodações”. Apenas duas das 14 cidades propostas como sedes têm o número mínimo de leitos exigidos pela FIFA, e será preciso construir nove dos 14 estádios (e reformar os outros cinco). A candidatura conjunta oferece 17 estádios prontos e uma vasta rede hoteleira.
O dinheiro também joga a favor de Estados Unidos/Canadá/México. A candidatura projeta o faturamento recorde de 14,3 bilhões de dólares (dos quais 11 bilhões irão para a conta da FIFA), o dobro dos 7 bilhões de dólares previstos por Marrocos. Segundo Carlos Cordeiro, presidente da Federação de Futebol dos Estados Unidos, a receita da FIFA se dividirá em cinco bilhões de dólares em direitos de tevê, 3,6 bilhões em patrocínios e 2,5 bilhões graças à venda de 5,8 milhões de ingressos. O recorde de ingressos vendidos pertence ao Mundial de 1994, disputado em estádios de grande capacidade nos Estados Unidos: 3,6 milhões para 52 jogos (a competição ainda tinha 24 participantes), média de 69,2 mil por partida. Em 2026 serão 48 seleções e 80 jogos.
Para a FIFA, que perdeu patrocinadores e credibilidade por causa do escândalo de corrupção que eclodiu em 2015 e provocou a prisão de vários dirigentes (entre eles o brasileiro José Maria Marin), os números da proposta norte-americana são música para os ouvidos. A Copa no Brasil despejou 4,8 bilhões de dólares em seus cofres, e a previsão é de que a da Rússia renda em torno disso – apesar da ausência de seleções atraentes como Itália e Holanda. E a possibilidade de ter a Copa do Mundo no mercado mais rico do mundo (Estados Unidos) agrada muito à FIFA, que vislumbra a chance de conseguir muitos patrocinadores locais.
Mas, apesar de todo o favoritismo conferido aos norte-americanos, nem sempre a avaliação feita pela comissão da FIFA é decisiva. Em 2010 o Catar teve a pior avaliação entre os candidatos a sediar a Copa de 2022 (atrás de Estados Unidos, Coreia do Sul, Japão e Austrália) e acabou vencendo. Há várias acusações de que o que determinou a escolha do Catar foi o dinheirão gasto pelo país para comprar votos dos 22 integrantes do Comitê Executivo da FIFA – o que levou a entidade a mudar o sistema de votação, como será explicado mais adiante. Desta vez, o que pode provocar uma zebra é a rejeição a Trump.
O presidente dos Estados Unidos irritou muita gente pelo mundo com decisões e declarações polêmicas sobre imigrantes, meio-ambiente, comércio internacional e com a transferência da embaixada do país em Israel para Jerusalém. E foi desastrado ao publicar em sua conta no Twitter ameaças a quem votar contra a candidatura conjunta da América do Norte. “Os Estados Unidos lançaram uma FORTE (assim mesmo, em maiúsculas) candidatura com Canadá e México para sediar a Copa do Mundo de 2026. Seria uma vergonha se países que temos apoiado fizessem lobby contra a nossa candidatura. Nesse caso, por que deveríamos continuar apoiando esses países (inclusive nas Nações Unidas)?”, foi uma de suas postagens. Em outra, disse que vai acompanhar atentamente a votação. E insinuou que pode haver represálias a quem votar contra os Estados Unidos.
“Peço que votem em nós pelos méritos de nossa candidatura, que oferece uma ótima infraestrutura e vai gerar muito dinheiro para todas as federações participantes, e não levem em conta questões políticas”, apelou Carlos Cordeiro, tentando desgrudar a candidatura da imagem de Trump. Décio de Maria, presidente da Federação Mexicana, também se mostrou preocupado com a possibilidade de perder votos por causa do presidente dos EUA. “Temos mais de três mil quilômetros de fronteira com os Estados Unidos. Tivemos problemas no passado, temos hoje e teremos no futuro. Mas a mensagem que queremos passar é de que no futebol estamos unidos.”
França e Bélgica já anunciaram apoio ao Marrocos, que tem 17 votos declarados. Os norte-americanos contam com 27 votos declarados, dos quais dez são da América do Sul (a CONMEBOL decidiu votar em bloco nessa candidatura). O colégio eleitoral é formado por 207 federações (Canadá, Estados Unidos, México e Marrocos não têm direito a voto porque são candidatos), e para vencer é preciso ter 104 votos.
Trump poderá ficar de olho em como cada um votará porque os votos serão abertos – antes, além de restritos ao Comitê Executivo, eram fechados. Cada dirigente terá a opção de três botões para apertar: “Marrocos”, “Candidatura conjunta” ou “nenhuma das duas”. Se der “nenhuma das duas”, o que seria chocante, será reaberto o processo de inscrições e novas candidaturas poderão surgir.
O NÚMERO DE VOTOS DE CADA CONFEDERAÇÃO:
Ásia – 46
África – 54
América do Norte, Central e Caribe – 35
América do Sul – 10
Oceania – 11
Europa – 55
OS VOTOS DECLARADOS PARA CADA CANDIDATURA:
MARROCOS – Argélia, Angola, Bélgica, Camarões, Catar, Egito, França, Gâmbia, Guiné-Bissau, Líbano, Luxemburgo, Myanmar, Palestina, Quênia, Rússia, Sérvia e Seychelles.
AMÉRICA DO NORTE – Afeganistão, Arábia Saudita, Argentina, Belize, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, El Salvador, Equador, Granada, Guiana, Honduras, Jamaica, Libéria, Namíbia, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, Porto Rico, St. Vincent and Grenadines, Suriname, Uruguai, Venezuela e Zimbábue.
Por Luis Augusto Monaco – Carta Capital
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